sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como tratar o vômito dos cães

"Assim como um cão volta a seu vômito, o tolo volta às suas tolices". Realmente, quem escreveu o livro bíblico dos Provérbios não se lembrou de que quando o cão retorna ao vômito, não é por "tolice" ou vontade própria, mas sim para se nutrir quando o dono se esquece ou não pode providenciar comida. E geralmente o cão não quer retornar ao vômito, pelo contrário, usa-o como recurso para se livrar de algum problema, desde um simples mal-estar causado por enjoo ou mudança de ração a problemas mais graves como gastrites e tumores. Aqui vai, pois, mais um de nossos guias gerais, para entender o que o cão "quer dizer" (ou melhor, diz, nós é que temos de entender) quando vomita e resolver problemas de saúde que ele demonstrar.
(Ah, sim: não confundir "vômito" com "regurgitação"; nesta última o alimento ou corpo estranho vem da boca ou do esôfago, ao passo que o vômito requer contração dos músculos do estômago para expulsar o que chegou até lá.)
Casos benignos — ou não
Os casos mais benignos são os vômitos apenas do que o bicho ingeriu (sem sangue, bílis ou outros sinais de alerta que veremos daqui a pouco), causados por indisposições passageiras como tensão emocional, mudança de tipo de ração, mastigação de grama ou plantas (quando não venenosas), passeios de automóvel com vidros fechados ou em ruas esburacadas e outros agitos literais (uma vez, lá nos anos 1970, peguei no colo uma Chihuahua de uma tia e nem atentei para ela ter acabado de comer, mas fiquei sabendo disto quando, empolgado para demonstrar carinho, peguei-a rapidamente demais e ela, assustada, devolveu a refeição).
Se o cão vomitar só uma vez e permanecer disposto ou alerta como sempre, o mais provável é que não seja nada demais, já passa. Agora, se o bicho vomitar duas ou mais vezes seguidas — especialmente em golfadas — e demonstrar indisposição, já é sinal de alerta suficiente para levá-lo ao veterinário, pois ele pode estar envenenado, intoxicado ou asfixiado (atenção para fiapos de pano ou corda!). Idem se o cão, além de vomitar, apresentar pelo menos um destes sintomas: falta de apetite, barriga muito dolorida e/ou inchada, gengivas pálidas ou amareladas, diarreia, desconforto e dor, depressão, fezes muito pretas ou com muco, e temperatura acima de 39,5 centígrados — sem falar em vômito com sangue (que pode vir vermelhão ou em "grãozinhos" escuros, indicando ação digestiva dos ácidos estomacais), bílis (verde) ou mesmo esforço para vomitar e não sair nada.
Atenção se o peludo tiver aversão a lactose ou glúten, diabetes, problemas nos rins, fígado ou pâncreas ou mesmo câncer. Nada de ir dando ao cão vomitador remédios que podem fazer bem aos humanos sem indicação do veterinário! E não esqueça de informar a ele todos os detalhes: se o canino vomitou logo após comer ou muitas horas depois, o que ele comeu, se vomitou várias vezes, se em vez de vomitar regurgitou (já expliquei acima a diferença), falta de vacinas ou vermífugos (náuseas podem ser sintoma de verminose)... Conforme os sintomas, o bicho poderá passar por exames de sangue, raio-X, endoscopia, ultrassom e outros mais minuciosos para descobrir e resolver gastroenterites, úlceras, tumores e outros problemas.
Cada cor conta uma história
Vômito avermelhado, como já dissemos, indica sangramento interno, e as causas incluem úlcera ou algo afiado ou pontudo que o bicho engoliu. Vômito de cor amarela pode significar que o cão ingeriu grama demais ou tudo de menos, ou seja, ficou horas demais sem comer. Se tiver espuma branca, pode ser resultado de o canino ter comido lixo ou comida estragada, e não terá muita importância se ocorrer só uma vez. Espuma branca com muco pode denotar a chamada "tosse dos canis", doença respiratória semelhante à rinite humana. E a cor verde indica ingestão de plantas desta cor (atenção: se elas eram venenosas, o cão não irá melhorar e precisará ser elvado ao veterinário).
Tratamento
O negócio é dar um descanso ao aparelho digestivo do peludo, deixando-o sem água e comida por no mínimo 12 horas (24 horas costuma ser o ideal). Depois, volte a dar água com um pouco de açúcar (o mais indicado são 5ml de açúcar para cada 250ml de água). Se o estômago do peludo segurar a água, comece no dia seguinte a dar "comida de hospital", bem leve e muito pouco salgada: arroz, ovo, frango ou hambúrguer — tudo cozido. No quarto dia, comece a misturar com a comida que o cão come normalmente; no sétimo dia ele deverá estar de volta à alimentação e saúde normais. Se em algum momento durante este tratamento o cão vomitar, corra com ele ao veterinário.
E se o cão estiver desidratado, poderá necessitar ser reidratado com injeções intravenosas ou subcutâneas, pois há possibilidade de o soro, se ingerido por via oral, passar depressa demais para ser absorvido pelo organismo.
Prevenção
Cuidado para não deixar à mão (ou melhor, à boca) coisas que os peludos possam engolir, como plantas, pedaços de pano, lixo ou comida estragada. E dieta com excesso de gorduras pode causar obesidade e pancreatite! Por outro lado, exercício demais também pode fazer mal, inclusive forçando o estômago do peludo.
Pois bem, este assunto é bem menos nojento e mais necessário de se discutir e comentar que muita música ou filme que se vê ou ouve por aí. E quanto mais cuidarmos de nossos peludos, a menos reduziremos este assunto com relação a eles — e eles nunca precisarão voltar ao caseiropróprio vômito.

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