Um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com cientistas do Departamento de Microbiologia Molecular da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, pode contribuir para o desenvolvimento de um novo fármaco que possa impedir que o parasita causador da doença infecte e se prolifere em humanos.
Os pesquisadores demonstraram pela primeira vez a importância da localização de uma enzima dentro do glicossoma – organelas exclusivas da família dos tripanosomatídeos, a qual as Leishmanias pertencem – do parasita causador da doença, que pode ser um potencial alvo para impedir o crescimento do protozoário.
Nos últimos anos, o grupo de pesquisadores da USP tem se dedicado a entender como o parasita causador da leishmaniose se relaciona com o homem e quais materiais utiliza para assegurar sua sobrevivência ao infectar um hospedeiro.
Um desses materiais identificados pelos pesquisadores de diferentes países que estudam a doença é a arginase – enzima de uma via metabólica das Leishmanias que é fundamental para o crescimento do parasita e está compartimentada em seu glicossoma.
Na pesquisa realizada em parceria com cientistas dos Estados Unidos, foi demonstrada que a compartimentalização adequada da arginase no glicossoma da Leishmania amazonensis é importante para a atividade e para possibilitar que o parasita infecte o hospedeiro.
“Demonstramos que a localização da arginase é importante dentro da fisiologia celular do parasita”, disse Lucile Maria Floeter-Winter, professora do IB e coordenadora do projeto.
Segundo Floeter-Winter, as constatações feitas no estudo abrem a possibilidade de se interferir no ciclo da doença, utilizando um novo medicamento que consiga inibir a enzima do parasita, por exemplo, de modo a interromper a infecção.
“A descoberta mais importante deste estudo foi identificar a importância da localização da arginase, que é um alvo importante para impedir que o parasita cresça em mamíferos”, avaliou Floeter-Winter.
A leishmaniose é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das chamadas “doenças negligenciadas”, por atingir populações pobres de países em desenvolvimento e, por isso mesmo, não receber a devida atenção da indústria farmacêutica para pesquisa de novos medicamentos.
Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP por meio de um Projeto Temático, foram publicados na revista PLoS One e apresentados em uma conferência realizada no dia 22 de julho durante a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada até o dia 27 no campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís.
Inibir a arginase
Segundo Floeter-Winter, para que possa ser mais eficaz do que os tratamentos utilizados, uma nova droga para combater a Leishmaniose deverá percorrer todo a trajetória de desenvolvimento do parasita e, por conseguinte, da enzima arginase.
“Como essa enzima está compartimentalizada dentro do glicossoma, do parasita na forma amastigota, do fagolissomo (lisossomo que realiza fagocitose) e dentro do macrófago, uma nova droga ou fármaco para Leishmaniose deverá fazer todo esse percurso para inibir a arginase: atravessar a membrana do macrófago, do fagossomo, do parasita e do glicossoma. E isso representa um caminho árduo”, avaliou.
Fonte: Agência FAPESP.
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