Acredito que todos os proprietários já ouviram ao menos falar nos corticóides (também conhecidos como cortisona, glicocorticóides), pois são medicamentos muito antigos, datam da década de 50 e provocaram uma verdadeira revolução na Medicina quando foram descobertos, pois permitiram que muitas doenças humanas fossem tratadas com sucesso. São, portanto, medicamentos muito úteis e que, quando bem utilizados, podem trazer benefícios imensos.
Contudo, sabemos que muitos veterinários e até mesmo proprietários fazem dos corticóides seu principal aliado, utilizando-os de maneira incorreta, o que contribui para o aparecimento de inúmeros efeitos colaterias indesejáveis, muitos deles irreversíveis.
Os corticóides são hormônios lipídicos derivados do colesterol, fabricados pelo próprio organismo a partir das glândulas supra-renais ou adrenais. Este cortisol, dito endógeno, possui inúmeros efeitos benéficos e atuam sobre todo o metabolismo. Quando passamos a utilizar o cortisol exógeno, ou seja, via mediamentos (oral, injetável ou tópico) nós interferimos com a produção natural deste hormônio pelo organismo, promovendo a longo prazo uma atrofia das glândulas adrenais, que pode ser irreversível.
Os principais vilões são os corticóides de uso injetável, a chamada “injeção anti-alérgica” que o veterinário aplica sem muitas vezes explicar que medicamento é. Ela faz um efeito maravilhoso, melhora a pele, a coceira, a vermelhidão e até o humor dos animais, mas depois de alguns meses tudo volta novamente, caso não tenha sido investigada e tratada a causa da alergia, e então, se repete a aplicação sucessivamente.
O que o proprietário não sabe é que esta fórmula mágica tem um preço muito alto para a saúde do animal, e que é apenas um paliativo que trata os efeitos e não a causa. Só para citar alguns dos efeitos colaterais dos corticóides:
- ação anti-inflamatória e imunosupressiva, ou seja, torna o animal mais vulnerável a infecções
- ação hiperglicemiante, ou seja, predispõe a uma Diabetis mellitus
- promove a quebra de gordura e proteína, ou seja, promove fraqueza e flacidez muscular por consumo de massa muscular
- diminiui a síntese de colágeno, dificultando as cicatrizações e tornando a pele mais fina e mais susceptível a lesões por traumatismos
- diminui a absorção de cálcio intestinal, levando a uma osteopenia (falta de cálcio nos ossos)
- promove aumento da sede, do apetite e da quantidade de urina excretada
- promove aumento de peso e abdomen pendular
- leva à letargia, fadiga muscular e apatia
- cios irregulares e alteração na libido de machos e fêmeas
- dificuldade respiratória e maior frequência respiratória
- alopecia (queda do pelo), pele fina, comedos ("pontos pretos" na pele), calcinose (depósito de cácio em várioas regiões do organismo) e teleangectasia (evidenciação dos vasos sanguíneos)
- aumento da pigmentação da pele
- aumento da pressão arterial e maior risco de insuficência cardíaca congestiva
- diminui a síntese de matriz óssea e aumento da reabsorção de cálcio ósseo
- promove alterações hematológicas no hemograma e na bioquímica sérica
- predispõe à catarata, ao glaucoma e à atrofia de retina
- aumenta o risco de pancreatite e de doenças renais (glomerulopatias e pielonefrites)
Devemos ainda salientar que mesmo os corticóides de uso tópico (cremes, pomadas, sprays) são amplamente absorvidos pela pele, e também exercem os mesmos efeitos colaterais.
Diante do exposto, você deve estar se perguntando: então para que serve esta medicação? Ou ainda, por que não param de fabricar tal medicamento? Os glicocorticóides são indicados para o tratamento de várias doenças, tanto dermatológicas quanto sistêmicas, tais como: dermatite atópica, doenças auto-imunes (como anemia hemolítica auto-imune, Pênfigo, Lupus eritematoso, artrite reumatóide, enterite esinofílica), dermatites eosinofílicas, dermatite úmida guda, celulite juvenil, etc.
Contudo, seu uso deve ser racional e cauteloso. Devemos sempre preferir, para tratamentos prolongados, os corticóides orais em detrimento aos de uso injetável, escolhendo sempre os de vida média curta, ou seja, que são metabolizados em até 24 horas, pois desta forma promovemos um efeito menos danoso sobre a produção do cortisol endógeno quando retiramos o medicamento.
Devemos ainda procura espaçar os intervalos e diminuir a dose ao máximo quando fazemos uso prolongado, a fim de liberar o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal durante o período de descanso, isto é, permitir que o organismo produza sua própria cortisona. Ao interrompermos o medicamento que está sendo usado por mais de 15 dias, devemos fazê-lo de forma gradual e lenta (desmame), a fim de evitar os sintomas do hipocortisolismo (falta de cortisol no organismo).
É bom salientar que os proprietários sempre investiguem que medicamento está sendo aplicado no seu animal, com nome comerical e dose. Assim, ao saber que se trata de um corticóide de depósito, poderá impedir sua aplicação, solicitando uma outra alternativa. Os corticóides de depósito agem por até 6 meses no organismo, promovendo efeitos colaterais prolongados. Além disto, ao surgir qualquer complicação decorrente do seu uso, uma vez adminstrados não podem mais ser removidos.
Escrita por: Cibele Nahas Mazzei
M. V. Mestre em Dermatologia Veterinária pela USP (CRMV SP 6011)
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