sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Cão pode ser companheiro de corrida, mas é preciso respeitar limites do animal

Como diz aquela campanha publicitária de uma marca de ração, cachorro é tudo de bom. Além de amigo fiel, ele pode ser o seu maior incentivador na corrida e na caminhada. Imagine a cena: você chega do trabalho, sem nenhum pique para fazer exercício. Mas, por amar o seu cão, você sabe que é preciso dar uma volta com ele.
“Os cachorros são uma fonte de motivação externa, especialmente para quem não tem muita vontade de se exercitar. Verificamos que aqueles que têm um cachorro, por exemplo, andam em média 132 min por semana, enquanto os que não têm caminham cerca de 66 min semanais”, conta o pesquisador do departamento de Epidemiologia da Universidade do Estado de Michigan (EUA) Matthew Reeves.
Um estudo dele recentemente publicado no Journal of Physical Activity and Health revelou também que, do grupo de pessoas que levavam o seu cão para passear, 60% se encaixavam nas recomendações das agências americanas de saúde para a prática de atividade física moderada a vigorosa e quase a metade delas se exercitava em média 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.

“Os cachorros ajudam as pessoas a serem mais saudáveis de várias formas: eles dão amor incondicional, dão uma razão para elas acordarem cedo e tomarem conta deles, fazem com que sejam mais ativas, já que eles precisam ser levados para passear, e as ajudam a relaxar e se centrar nesse mundo bastante estressante em que vivemos”, explica a diretora do centro de pesquisas sobre a interação homem-animal da Universidade do Missouri, EUA, Rebecca Johnson.
Por que, então, não aproveitar essa oportunidade para se exercitar com o seu amigo?
Uma máquina de músculos
Criado para se movimentar, essa máquina de músculos resistentes e alongados pode dar uma saudável canseira em você durante uma corrida, dependendo, claro, da raça, índole e vocação do animal.
A corrida faz muito pelo seu cão, pois fortalece a musculatura, aumenta a capacidade cardiorrespiratória, controla o peso e melhora o sono dele, além de diminuir a ansiedade e os riscos de doenças, como certos tipos de câncer. Mais: um cão atleta (ou quase isso) é menos estressado. Mesmo aqueles que vivem em grandes espaços tendem a ficar deitados em um canto, à espera de uma oportunidade real de ação.
“Cachorro cansado de uma forma sadia, com direito a caminhadas, corridas e brincadeiras, é um cachorro feliz. Não há nada mais entediante para esse animal do que ficar sozinho, preso, fazer passeios corridos e irregulares ou ter sempre os mesmos brinquedos”, diz a treinadora de cães Cláudia Pizzolatto.
Se o seu cachorro tem comportamento destrutivo, chora ou late demais, se lambe compulsivamente, é agressivo, inquieto diante de outras pessoas e nada amigo de outros cães, está na hora de você colocá-lo para correr.
Qualquer cachorro saudável pode e deve caminhar ou passear com o seu dono. Mas se o objetivo é correr, existem raças mais adequadas para esse tipo de atividade. Seu poodle ou aquele vira-lata miúdo e simpático pode acompanhá-lo numa corrida, mas cães de companhia e de pequeno porte têm patas curtas, o que limitaria as passadas do dono. Não é bacana ou sensato você arrastar o animalzinho pela coleira de forma que ele acompanhe o seu pique. O exercício tem que ser bom para os dois.
Corredores natos
Cães de porte médio, como labradores, goldens, dálmatas, pastores e borders, são perfeitos para acompanhá-lo em uma corrida. Seu cão não é de raça? Sem crise. Vira-latas do tamanho desses cachorros citados também dão conta do recado.
O pedigree não é empecilho para que seu amigo seja um bom corredor. O que impede, de fato, além do tamanho, é o tipo de focinho que ele tem. Cachorros com focinhos curtos, como pugs, buldogues, shitsus e lhasas, têm dificuldades para respirar. Nesses animais, a troca de ar – que se torna mais intensa durante uma corrida – é prejudicada por causa desse detalhe anatômico.
“Também não recomendo correr com cães de porte grande, como um são bernardo ou um dog alemão. O peso e o impacto da corrida podem prejudicar as articulações desses animais”, recomenda Cláudia.
Esse mesmo princípio, também aplicado aos humanos, restringe a prática da corrida para aqueles que estão obesos. Se seu cão está gordinho, melhor submetê-lo a uma dieta, com direito a ração especial, antes de transformá-lo em um corredor, de modo a poupar as articulações dele. Também devem ficar fora da corrida animais com menos de um ano e meio ou com mais de sete anos. Cães muito jovens ou velhos podem não suportar o pique do exercício, assim como cadelas grávidas ou em fase de amamentação.
Ombros em perigo
A principal regra antes de colocar o seu cão para correr é levá-lo para uma consulta ao veterinário. É provável que ele peça algum exame para certificar-se de que o coração do seu animal está funcionando bem, além de verificar se ele não sofre de displasia (má-formação da articulação coxofemoral). Esse problema, que limita os movimentos, costuma ser comum em pastores e labradores, inclusive jovens. Cães cardíacos ou com displasia também precisam de exercícios. Mas não é o caso de submetê-los a uma corrida de longa distância.
Outro detalhe importante: se você quer que seu cão o acompanhe na corrida e ele ainda não está acostumado a isso, apesar de ter uma natureza privilegiada para tal, comece o treinamento com moderação. “Não é porque você está acostumado a correr 20 k diariamente que o animal deve segui-lo já de cara. Aumente a distância gradativamente a cada semana, de modo que o seu cachorro vá se acostumando”, diz o médico veterinário Lineu Padovese.
O que muda no seu treinamento tendo um cachorro ao lado? Por ter que ficar mais atento e conduzir o cão por meio da guia, já que é arriscado deixar o animal solto em qualquer circunstância, é melhor evitar correr em rodovias ou ruas movimentadas. Por motivos óbvios, o movimento do braço que conduz o animal será diferente. Sem contar o tranco, que pode acontecer vez ou outra, já que o cão, apesar de fiel seguidor, tem vida própria.
“Nessas condições, o melhor a fazer é reforçar a musculatura que protege e dá sustentação às articulações do cotovelo e do ombro por meio de exercícios específicos de peso para essas regiões”, diz o personal trainer Caio César. No mais, é só seguir aquela velha cartilha dos corredores, que você está cansado de saber.
Seu amigo não está a fim
Se seu cão gosta de sair em disparada com você, a palavra “correr” será a senha para que ele fique feliz e agitado, balançando o rabo como doido, como acontece com outros cachorros ao ouvir um “passear”. No entanto, durante a corrida, ele pode dar sinais de que já está cansado, de que não quer mais correr ou de que precisa fazer suas necessidades. Um dos primeiros sinais é tentar parar se jogando ou se arrastando no chão, apesar de sua insistência em conduzi-lo pela guia.
Seu amigão pode ainda procurar sombras tentando, por exemplo, se manter debaixo de uma árvore, ou ficar muito ofegante. Se notar algum desses sinais, é hora de parar e descansar.
Você também deve parar a cada 15 ou 20 minutos de corrida para oferecer água ao seu cão. Assim como você, o animal também precisa ser hidratado. Mas nada de dividir seu isotônico com ele. Água fresca é o suficiente. Se ele não quiser beber naquele momento, não precisa insistir. A corrida está proibida caso o sol esteja forte ou após a refeição, o que vale para os dois.
Sempre que voltar do treino, cheque as unhas e as patas do cão. Se estiverem esfoladas, cortadas ou sangrando, é preciso cuidar delas e talvez colocar o seu corredor de molho, dependendo da gravidade do problema. “É muito importante ter bom-senso e respeitar os limites do cão. Agindo assim, você saberá, com o tempo, o que esperar de seu companheiro de modo que correr se torne um prazer para ambos”, diz Padovese.
O que levar na corrida
Mochila - existem tipos específicos para cães. Você pode colocar sacos plásticos nelas para recolher as fezes do seu amigo, por exemplo.
Bebedouro - os dobráveis cabem no seu bolso e são úteis na hora de hidratar seu amigo, sem que você tenha que dividir sua garrafa de água com ele.
Protetor solar - é preciso passar o produto no focinho e nas orelhas de cães mais branquinhos, mesmo que não esteja fazendo sol. Afinal, a radiação solar está ali, firme e forte, até em dias nublados. A boa notícia é que existem protetores específicos para seu amigão.
Coleira e guia - por mais que o seu peludo seja treinado e obediente, jamais corra com ele solto. É uma questão de segurança para vocês dois. Há lugares que os cães só podem frequentar se forem conduzidos por seus donos, caso de alguns parques. Importante: escolha uma guia que permita que o cão fique próximo de você durante a corrida. Assim, você terá mais controle sobre ele.

Fonte: Sport Life

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