Na segunda-feira, o marceneiro Carlos Alberto de Sousa, 45, estava assistindo a um filme com a mulher e a filha. Eram cerca de 16h30 quando a família, que mora no Jardim Tropical, foi surpreendida pelo latido dos três cachorros da casa. Ao saírem no quintal, se depararam com outro cão, desconhecido, mancando e com a pata dianteira esquerda dependurada e na carne viva. Assustado com o latido dos outros, o animal entrou na varanda da residência e se acomodou num canto.
Começava neste momento uma verdadeira saga em busca de ajuda para salvar o animal. Desde que encontrou o cachorro ferido, Carlos disparou telefonemas para conseguir socorro para o cão. Foram duas horas de tentativas. O marceneiro ligou para seis locais: Bombeiros, Polícia Ambiental, Prefeitura, Polícia Militar, Polícia Civil e Grupo de Ajuda a Animais Abandonados Cão que Mia. “Liguei para o Bombeiro e disseram que não fazem esse serviço. Acabaram jogando para a Prefeitura, que jogou para a Polícia Civil, essa para a Ambiental e para a Militar. O único jeito que achei foi chamar a imprensa, porque ficou um jogo de empurra.”
O chefe de Vigilância em Saúde da Prefeitura, Fernando Baldochi, disse que o município não tem incumbência de recolhê-los. O resgate só ocorre quando há registro de ataques ou de transmissão de doenças. Em 2008 a eutanásia de animais foi proibida por lei estadual e o serviço de captura de cães e gatos pela carrocinha foi suspenso. A Prefeitura alega não ter condições de abrigá-los no canil municipal. “Isso não faz parte dos serviços que temos de prestar, porque a Secretaria de Saúde cuida de pessoas e a Vigilância entra em ação quando os animais se tornam vetores de doenças. Realmente Franca carece de um órgão de saúde para o animal.”
Os Bombeiros, segundo o tenente Filippin, só capturam animais agressivos. “Recolhemos os domésticos só em caso de ataques, quando há riscos para as pessoas.”
O Grupo Cão que Mia abriga atualmente mais de 200 cachorros e gatos. A empresária Aleni Papacídero alega que ela e as sete voluntárias do grupo não têm espaço físico nem condições financeiras de cuidar de mais bichos. “Todos os dias recebo de quatro a cinco telefonemas para buscar animais machucados, abandonados ou ninhadas, mas não posso atender.” Segundo ela, os gastos com os atropelados variam de R$ 800 a R$ 1.500 incluindo cirurgias, internação e medicamentos. “Tiramos dinheiro do nosso bolso para cuidar deles.”
O sargento Carlos Roberto Silva, da Polícia Ambiental, garantiu que a corporação recolhe os animais domésticos e disse que não recebeu o pedido do Jardim Tropical na segunda-feira. “Somos obrigados a atender todas as ocorrências ou acionar outros órgãos para fazê-lo. Encaminhamos para veterinários da Unifran ou Prefeitura.”
DESFECHO
O marceneiro Carlos Alberto teve receio de fazer curativos no cachorro. “Como vou fazer. Ele fica chorando de dor. Tenho medo de mexer e ele ter alguma doença ou me atacar, porque a gente não conhece, não sabe se é vacinado.” Anoiteceu e o cão continuou na residência. Com ajuda do vizinho, Carlos acabou enfaixando a pata dele. O animal permaneceu no Jardim Tropical por 24 horas. Na tarde de ontem, o funcionário contratado pela Prefeitura para transportar animais o recolheu. Ele seria encaminhado para atendimento veterinário.
A Papá de Bicho acredita que se a cidade de Franca tem a necessidade de possuir um órgão para tal ação como tem em grandes cidades, não podemos de deixar um animal sofrendo por atropelamento e ficar de braços cruzados. O Grupo Cão que Mia tem de se maior apoiado por órgão público, ou então ser criado uma estrutura pública para estes animais de rua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário